Eu versejo por todos os tempos e templos, por todas as épocas, tal qual um vampiro reinventando sua imortalidade... quero beber-te vermelho e tornar-te imortal... Boa Morte!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Juliana

Reuniu caixas, encheu taças, desligou o telefone e a quem a porta lhe bateu, por si mesma disse estar ausente.
Recomeçara o ritual. Fotos, postais, mapas, rabiscos, bilhetes, ingressos, guardanapos, panos e livros rodeavam-na naquela penumbra à luz do lusco-fusco claudicante das velas cenicamente colocadas para o momento. Exortava-se.
Porta abaixo escorria pranto, corpo e soluço numa entrega que buscava tateante, móveis para quebrar, objetos para jogar e uma música que mais lhe fizesse chorar. Perseguia um contratempo onde toda dor fosse menor e mais supérflua que a sua. Onde sua angústia seria merecedora de um estrago material de proporções tamanhas ao quanto estava operando.
Lascar, quebrar, derrubar, gritar, chorar, espernear... A cíclica destruição shiva deveria reinar em sua cabeça naquela noite.

Quando os braços buscam-se e o choque é invocado como toque, razões não mais são evocadas: resta apenas a vontade do prejuízo. Nervos e carências. Uma funesta cena de drama.

Quis crer serem verazes suas razões, ser dor toda aquela hipérbole, ter desesperança e acabar consigo dum único golpe. Restou vencida. Exausta e Bêbada.
Caiu Juliana, numa sala quebrada, num canto escuro de uma casa alugada, sua vida arrasada, suas memórias espalhadas, destroçadas. Acordaria pedante, constante, confiante, sairia à porta e não voltaria a ver-se nunca mais.