Eu versejo por todos os tempos e templos, por todas as épocas, tal qual um vampiro reinventando sua imortalidade... quero beber-te vermelho e tornar-te imortal... Boa Morte!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Fuga(z).

Noite pagã de frêmitos agudos e quimeras fugidias, embala-me infante em seu manto de felicidade... nunca me acordes; caso ocorra, pega-me no colo, da-me teu veneno e carrega-me para o sem fim outra vez...

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Ouço as bombas estourando e as paredes parecem tremer frente aos impactos intermitentes dos metais.
Trovões, ares e cheiros de longe trazidos pelo turbilhão que engole os sons ordinários das passagens.
Como que extraído ou abduzido à lembranças e estados avessos, ou épocas e sentimentos que não me pertencem, sou levado a observar.
Em meio ao corre-corre as luzes se ascendem e pela janela ainda consigo divisar o último instante do gigante...
Passa o trem e logo atrás dele, e com ele, algo de mim que não vivi.
As crianças correm como que embaladas no percalço duma velha novidade: o aturdir de todas as horas.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Cada um pode com a força que tem.

Hoje uma cobra me picou... Suas entranhas penetrantes pareciam que nunca sairiam da minha carne macia e vulnerável. A mim ficou claro que mesmo se corresse ou gritasse não conseguiria escapar daquele bote irresilível - preso.
Dentre três, aquela fugidia ofídia era a assaz caçadora. Sua fuga deu em mim que ironicamente de chofre não pude me esquivar. Resultado: dente, veneno, sangue [o meu], carma.
Rasteira agora a peçonhenta percorria meu corpo com mais que um veneno - o sentimento de impossibilidade frente à fatalidade, impassível, fadado, marcado, sem antídoto, morto morrendo.
Suado, visão turva, sentia uma dor que não era dor, mas a frustração de não ter me desembaraçado daquela sina.
Pernas travadas, corpo fetalmente encolhido, retesado, frio, peito em chamas, síncope... Por fim abri os olhos e, mãos justapostas, orei palavras supersticiosas para afastar o que, para minha sorte, começava a se desvelar, por aparentes indícios, como uma visão – o sonho mau sonhado duma noite insólita e movimentada.
Já acordado restou no peito o aperto do fatídico encontro, embora onírico, meu e da cobra, ou das cobras, além da sensação de coisa suspensa no ar e a tentativa de antever qualquer mau presságio que aquela premonição pudesse teimosa evocar. O máximo que consegui foi repetir não ter passado dum sonho, mas como fui eu mesmo quem disse, pouco importou a tentativa de conformação; já foi o tempo em que ouvir amenidades esvaecia de súbito qualquer temor.
Restaria destilar o veneno. Era isso mesmo, teria que aceitar durante todo o dia o encontro irrefutável – eu e a coral. Entretanto agora eu decidira - seria eu ofídio a se temer.

Noite de janeiro, presságios de abril.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Benedito.

Do que se diz perda soluciona-se o futuro; como cego tateante entre possibilidades vãs e caminhos inexistentes... Recuando e avançado onde brecha abrir destino sua guia.
Do que se diz fim encontra-se o fim do fim, e tudo é fênix.
Da teia emaranhada tesoura cega corta o sufoco iminente.
Impossível. Certeza.
Não. Espera.
Nunca. Ato.
Dizem de mim e eu digo-me assim.
Quebranto quebrado, Água corrida, Desdito o dito.
Bendita a dita.
Vida.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Dantes.

Ouço a música que cantei seus olhos.
Recrio o embalo dos nossos corpos, do seu cheiro e revivo aquela dança...
Dobras, reentrâncias, pêlos, carícia e ritmos acoplados por uma balada binária e variável. Corpo no corpo. Nós.
Paro ao buscar o seu e deter-me vazio, distante. Sem contratempo perco-me em extravio.
A música insiste, agora mais alto...
Então fecho os olhos e, corpo sob o ar, ateu, oro o movimento cíclico que irá te evocar a esperança de uma última dança.