Eu versejo por todos os tempos e templos, por todas as épocas, tal qual um vampiro reinventando sua imortalidade... quero beber-te vermelho e tornar-te imortal... Boa Morte!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

12 de junho de 2009.


Nesta manhã, somente para você.
Você que me acompanha a tanto tempo e pouco diz sobre si.
Seus gestos sempre discretos. O cuidado com que cuidas de mim, das minhas coisas, dos meus.
Sinto-te presente desde as primeiras imagens que diviso ao acordar, até se pôr, acoplada, sua eclíptica noite aconchegante.
Este jeito de chegar e tocar, de olhar, de sentir e me permitir, de ir e deixar-se permanecer...
Hoje sou teu, menos eu. Mais você. Você quando, tanto, sem cessar. Você passado, presente, vindo. Passo a passo, todos os dias, mais perto.
Pelas estrelas desta alvorada, por tudo que a tanto cultivo em mim para ti.
Eu e você no sempre que já dura um nunca.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Estranha intimidade

Tragados. Gritos, acusações, dores, silêncio, cigarros. Nada mais que gestos: única linguagem vociferada por aquele hiato de nucas retesadas, olhares propositadamente esquivados, respirações sincopadas e uma vontade incontrolável de permanecer. Restava a vontade de ficar quando o tempo era partir.
Por entre taças abandonadas, melodias sem mais sentidos, acagüetes inventados como fuga, desintegravam-se os sorrisos, o carinho, a cumplicidade, a intimidade; tudo diluído na estranheza daqueles objetos e pessoas que os cercavam. Dantes: ventura, agora: desdita.
Atos e palavras nunca antes ditos ou sequer imaginados na boca do outro rasgavam ventres e arritmavam corações. Longos silêncios marcavam tréguas diminutas. Os anos resvalavam-se na voracidade em se que consumiam segundos, minutos, horas naquele longo duelo de armas e ataques invisíveis. Irreversível. Destrutível. Cruel. Posto. Holocausto.
A vontade: não ir.
Aquelas presenças beligerantes procrastinavam o término do massacre. Buscada nos olhos a esperança: fúria. Companhia: abandono. Compreensão: ira. Anistia: exílio. Matéria atraída: repelida mente.
Entrincheirados, não mais conseguiam superar lexicamente o embate; durado o bastante, corrompera ele qualquer alternativa de saída lógica para aquela situação; restava o pesado calar.
Escuro. Bar. Fechado. Chuva. Passos. Carro. Abrir. Chave. Luzes. Toque. Engano. Estranhos. Olhos. Estranhos. Olhos. Suor. Frio. Receio. Toque. Toque. Toque. Beijo. Roupas. Corpos. Corpos. Corpos. Dor. Ofegantes. Ofegantes. Olhos. Olhos. Olhos. Eu te amo. Eu te amo.