tag:blogger.com,1999:blog-31785490078696891432024-02-18T21:16:14.106-08:00Boa MorteJurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.comBlogger26125tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-11389490932073676962012-07-30T19:16:00.001-07:002012-09-10T18:23:30.319-07:00Minha Presença Guia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxt097_hqqkDYcnSRgWbPCMlwMjqrNpRT82YZSfco0PBgFkApSIgiq4sP1UJf3qr_XiSpDGl0VLk2SdSDoci7W2DdGYfi0iYXUEe1B_Axpp3K2tvAA6n2rSEc6sQzRWi0X0f_Q-UnsIY0/s1600/passaro+por+do+sol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="206" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxt097_hqqkDYcnSRgWbPCMlwMjqrNpRT82YZSfco0PBgFkApSIgiq4sP1UJf3qr_XiSpDGl0VLk2SdSDoci7W2DdGYfi0iYXUEe1B_Axpp3K2tvAA6n2rSEc6sQzRWi0X0f_Q-UnsIY0/s320/passaro+por+do+sol.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Minha Presença Guia, nesta hora nossa de cada dia,
nesse instante de enlace, deponho em sua guarda meu flanco exausto, minha alma
marcada, minhas emoções extraviadas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"><span style="line-height: 150%;">No escuro, de olhos cerrados, cicatriza minha vista cansada de tantos brilhos falsos: gemas sem valor e espectros desumanos; a</span><span style="line-height: 24px;">pazígua</span><span style="line-height: 150%;"> minha mente. </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Despe-me da altivez que me envolveram tantos elogios.
Regressa-os aos seus remetentes que nem queriam os ter proferido. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Escusa-me das decepções, dos desamores, dos sonhos
defeitos... dos que prometeram para sempre e voltaram nunca mais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;">Desterra os cativos, exorta os nocivos e exaure minha
consciência no silêncio desse instante, desta eternidade poente.</span></div>
Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-23548114668663512692011-06-01T17:33:00.000-07:002011-06-08T18:34:31.748-07:00Orion<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZdTHYwIm0ykxelsGL4SoRm41aLOymYnBWAxtRTbyuB-YsdTYaiqwBy2Hn0JttjkPnznrjT9Itz8GmgC20p65Hrjo7RHs0Vs-qdwEeox3CzNJsfHLRI5x3MS_UeXqNeQ1ANiib0yhPLdo/s1600/167785_Papel-de-Parede-Ceu-Em-Chamas_1280x960.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 182px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5613422074126571314" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZdTHYwIm0ykxelsGL4SoRm41aLOymYnBWAxtRTbyuB-YsdTYaiqwBy2Hn0JttjkPnznrjT9Itz8GmgC20p65Hrjo7RHs0Vs-qdwEeox3CzNJsfHLRI5x3MS_UeXqNeQ1ANiib0yhPLdo/s320/167785_Papel-de-Parede-Ceu-Em-Chamas_1280x960.jpg" /></a><br /><br /><br /><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Os pedaços de vidro no chão não são os estilhaços dos espelhos ferozmente quebrados após o adeus, mas o resultado dum golpe preciso, cravado em cheio num coração - partido, despedaçado, sincopado.<br />O sangue nos lençóis, nas portas, nos cantos, não jorra daquele coração ferido sobre a cama, mas do pranto que corre incessante por dias, noites, meses - úmido, vermelho, amargo, engolindo um corpo acuado.<br />O frio que faz gemer e encurvar os membros, não sopra da janela escancarada ou da porta destrancada, entreaberta; rasteja pelas entranhas duma alma perdida, sem esperanças, repleta de espectros de sonhos desfeitos; congelada, imóvel, encarcerada em sua própria desventura.<br />O vulto que acaba de surgir alto no cômodo não se projeta daquele ser que agoniza na cama em posição fetal a espera dum balsamo para aplacar suas dores, mas de outrem - daquele que se reergue solene e espalha cuidadosamente gasolina sobre seu próprio corpo morto, em todos os cantos, lençóis manchados, livros, cartas, fotografias...<br /><br /><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">O forte odor repulsivo sentido, não emana da líquido inflamável atiçado, mas das chamas que consomem implacáveis aqueles cacos de lar, aquele sangue, aquele frio, seu próprio dorso.<br /><br /><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">U</span><span style="font-family:courier new;">ma última olhada, única lágrima. Nenhuma dor.<br />O barulho às costas não emerge da construção que desaba consumida pelo fogo, mas das vítimas desesperadas. Todas mortas. Incendiadas. Aprisionadas a um passado sem progresso, sem horizontes, de cinzas e nada mais. </span></div><br /></div></span></span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-16974849673387193432011-01-12T14:05:00.000-08:002011-02-02T08:07:32.987-08:00A chuva<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2JdGEeMRIKUF2XQV3NxT2WP-LoHogmf9YA4_VqHxK-bq0ScNvZ13iv84XBZtl1Za6hoC6WoQVZf9tY9wpFSUifm1gDvVsJ59l6wpYCnyWo8TTrwWQ2tC7wWtI6BaYPWs5DG9SLJRZsmg/s1600/chuva-5497.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5562091508641776914" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2JdGEeMRIKUF2XQV3NxT2WP-LoHogmf9YA4_VqHxK-bq0ScNvZ13iv84XBZtl1Za6hoC6WoQVZf9tY9wpFSUifm1gDvVsJ59l6wpYCnyWo8TTrwWQ2tC7wWtI6BaYPWs5DG9SLJRZsmg/s320/chuva-5497.jpg" /></a><br /><div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Não chore. Repito sussurrante. Digo àquele ouvido sem vibração, àquele corpo sobre o meu - inerte, àquela pele quente que me aquece, murmuro e não ouço resposta, então novamente - não chores... Enxugo o pranto. Chove. Água por toda parte, por todo o corpo, todo o quarto, pelas ruas. Chove. Choro... Não chores! </span></div></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-47972933691395724412010-12-03T09:31:00.000-08:002010-12-03T09:35:15.500-08:00EPARREI<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA0X4cF1eu1X_5QD4iIQ870H1vNF80NW9hEOt_guZbdhcTIcPFXiuwvDC6exJ3bKUYfq11wiGDtKrA_N7PGceKVgqX4vmXkyDrCZFro37ROyijTcpCZdkRTsIPMgXYZOOSOj8Z5-344C8/s1600/3543019508_50770a436d_o.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 213px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5546510790901039922" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA0X4cF1eu1X_5QD4iIQ870H1vNF80NW9hEOt_guZbdhcTIcPFXiuwvDC6exJ3bKUYfq11wiGDtKrA_N7PGceKVgqX4vmXkyDrCZFro37ROyijTcpCZdkRTsIPMgXYZOOSOj8Z5-344C8/s320/3543019508_50770a436d_o.jpg" /></a><br /><span style="font-family:courier new;">Do dia de sua chegada lembro do vento, do tempo fechado e daquele pressentimento que se tem na iminência dos grandes acontecimentos. Foi assim que a recebi - como um presságio. No então de mim arvore revolvida, céu carregado, noite no dia, ventania, encontrei-a esperando-me pacientemente, como se soubesse daquele encontro. Não me abraçou, sequer dirigiu-me a palavra. Apenas, deferente, levantou-se num cumprimento sutil e sussurrou-me seu segredo. Nunca mais foi vista. Dela - nada se sabe ou se conversa. Com ela - poucos se aventuram. Para ela – a coragem de vencer e o fronte de batalha. Reluzente sua espada, ofuscante sua dança, implacável sua ira. No caminho de quem pisa forte a marcha da Senhora, a certeza mansa do feitio que lhe protege. EPARREI OYÁ.<br /><br />Salve 4 de dezembro!!!<br /></span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-74699249220511040242010-09-22T19:59:00.000-07:002010-11-26T05:21:31.708-08:00Ciranda.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb1RM3OQkE0Xv5kOK_xcWdmYbLjtgJuxGiDDwyUS9NeGDuUshDEsd8beXo5PoMW1q00oqCB6RtwWiAESv86TyARe22CtVC_6UJa2uxNGSAPVdcjmgIxKzkmGAekbobyxTlwqWV3KI-J_o/s1600/CRIANA~1.JPG"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532452754187778930" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb1RM3OQkE0Xv5kOK_xcWdmYbLjtgJuxGiDDwyUS9NeGDuUshDEsd8beXo5PoMW1q00oqCB6RtwWiAESv86TyARe22CtVC_6UJa2uxNGSAPVdcjmgIxKzkmGAekbobyxTlwqWV3KI-J_o/s320/CRIANA~1.JPG" /></a> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOjQDhw93ro3lIlKX6ZcdonqhRLF12ATpDBpbW7EJfLJKVi-1zpFUwj7ZO9ALzAurKUg6u8ax4o_sm41MbvTasuaP5Lfmc6YRyNDIvcSHaj-V-oeJgqoV621ffP5gmfaH-8Q-4Z0hV-gc/s1600/CRIANA~1.JPG"></a><div><br /></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Ainda sou a criança de olhos atentos, passo manso e fala assustada. Posso ser vista escondida atrás das portas, solitária, indefesa - olhos arregalados, respiração forte, coração aos pulos.<br />Sou aquela quieta no canto das festas a espera do momento em que o vacilo dos demais possibilite uma estranha alegria reinar no salão. A de choro fácil, pensamentos adultos e olhar perdido no parque. Aquela que teme os mais fortes e sem motivo aparente se chega aos familiares para que não saibam da sua fragilidade.<br />Sou a criança que barganha ser aceita exigindo-se</span><span style="font-family:courier new;"> afinco em destrezas desconfortáveis para satisfazer os demais. Sou infante, pequena, assustada, chorosa, sem conto de fadas, sem heróis... Órfão de infância, de tranqüilidade, de liberdade. </span></div><span style="font-family:courier new;"><div align="justify"><br /><br /></div></span><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Nasci velha num velho mundo novo. Permaneço entre brinquedos, papéis coloridos, aquarelas, gritando ser criança para quem sabe alguém um dia consiga me ensinar a brincar de ser feliz. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-9962446276187670222010-08-11T06:37:00.000-07:002010-11-26T05:21:59.196-08:0021<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFu15QAKPD9uZOOtUtdQ5fLiYYmx1qDR7G5I_nlZpiFylVYBytK8lvqcxYnMmaP1vs9JX2dxvtkMzdyyT48fjSK5GZCr9zavuegy2xt0_J6NoD5SwRPU8MzDwqISrBu0GCfBsma1mR_O0/s1600/encruzilhada.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 188px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532454765031241922" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFu15QAKPD9uZOOtUtdQ5fLiYYmx1qDR7G5I_nlZpiFylVYBytK8lvqcxYnMmaP1vs9JX2dxvtkMzdyyT48fjSK5GZCr9zavuegy2xt0_J6NoD5SwRPU8MzDwqISrBu0GCfBsma1mR_O0/s320/encruzilhada.jpg" /></a> <span style="font-family:courier new;">Desta encruzilhada posso ver o mercado e isto já me basta. De lá me chega e atiça o aroma ativo das moças suadas, dos animais, das frutas, legumes e vegetais... Não há um só charuto aceso do qual eu também não fume. Ou mesmo pinga destampada que eu não beba. Tudo aqui deste cruzamento.<br />A cidade dorme sob minha vigia e acorda com o meu repouso. Daqui consigo acompanhar a direção de cada passo, ouço suas pancadas e sei de todos. O da pisada firme e coração virtuoso, o que caminha torto e engana aos outros, a da chegada mansa e vida vadia... Todos. Se chegam e ficam, passam corridos, param e olham, temem, enfrentam, seguem. Uma cruz pra cada pé e um guia pra cada cabeça.<br />Ainda que me ignorem, sei deles. Mas o que gosto mesmo é das mulatas que, servindo a seus senhores, passam e me deixam presentes. Se da água das talhas mal equilibradas em suas cabeças não me dão beber, faço com que furtivas caiam ao chão. Se dos alimentos carregados em seus mocós não me deixam comer, um tropeço os trazem direto às minhas mãos. Hão os que de bom grado me servem à satisfação, destes como e bebo, sem lhes dar um tostão.<br />Nenhum dia deste caminho é igual, somente o próprio caminho. As vezes reparo os mesmos casaris, o mesmo calçamento e a mesma escuridão. Não consigo deixá-los porque há o mercado; de lá vem meu alimento, minha cachaça, minhas moças. Não preciso caminhar. Quem sabe eu tenha esquecido das pernas que tenho e viva do andar dos demais? Quem sabe? Pouco me basta, afinal sou este que se vê a esgueira nas esquinas de olho em tudo e todos, me servindo de suas andanças, incentivando, punindo, obstruindo, apoiando, censurando, gargalhando, às vezes até amando. Faço deste entreposto um assento, uma razão e um meio. Daqui desta encruzilhada - Encontros e desenlaces. Quatro caminhos. Dois senhores. Muitas escolhas e uma certeza - o passar e o eterno correr da vida.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-40504699107090151332010-05-04T19:27:00.001-07:002010-11-26T05:22:24.751-08:00Juliana<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN3NxQOEY2Ei4ZfdLwB4ITngTOkjY8V7qU63nCcdvGLe3VK_ROhnsmbob6CROIQhEtWDregLS2VHCjbscUEXxtE1CqTe3lU9TNQf2l4mW4SB8pOzJemHK0nE1NPtSdcZI9mrvW6rUTxsE/s1600/RTSA86CAXD007PCAPCZE97CAI23RFSCA7Y83LPCAGD3GH4CA5YUUBECAWYMQ0OCAHAEDARCAN7U9TLCAAJ921TCAZRXLBUCAEMDA9ACABLB3SGCARM3KAJCA87SQG4CAXY824JCA8HA9WTCA4Q7JJR.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 273px; DISPLAY: block; HEIGHT: 136px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532458115442481602" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN3NxQOEY2Ei4ZfdLwB4ITngTOkjY8V7qU63nCcdvGLe3VK_ROhnsmbob6CROIQhEtWDregLS2VHCjbscUEXxtE1CqTe3lU9TNQf2l4mW4SB8pOzJemHK0nE1NPtSdcZI9mrvW6rUTxsE/s320/RTSA86CAXD007PCAPCZE97CAI23RFSCA7Y83LPCAGD3GH4CA5YUUBECAWYMQ0OCAHAEDARCAN7U9TLCAAJ921TCAZRXLBUCAEMDA9ACABLB3SGCARM3KAJCA87SQG4CAXY824JCA8HA9WTCA4Q7JJR.jpg" /></a> <span style="font-family:courier new;">Reuniu caixas, encheu taças, desligou o telefone e a quem a porta lhe bateu, por si mesma disse estar ausente. </span><br /><span style="font-family:courier new;">Recomeçara o ritual. Fotos, postais, mapas, rabiscos, bilhetes, ingressos, guardanapos, panos e livros rodeavam-na naquela penumbra à luz do lusco-fusco claudicante das velas cenicamente colocadas para o momento. Exortava-se.</span><br /><span style="font-family:courier new;">Porta abaixo escorria pranto, corpo e soluço numa entrega que buscava tateante, móveis para quebrar, objetos para jogar e uma música que mais lhe fizesse chorar. Perseguia um contratempo onde toda dor fosse menor e mais supérflua que a sua. Onde sua angústia seria merecedora de um estrago material de proporções tamanhas ao quanto estava operando.</span><br /><span style="font-family:courier new;">Lascar, quebrar, derrubar, gritar, chorar, espernear... A cíclica destruição shiva deveria reinar em sua cabeça naquela noite.</span><br /><br /><span style="font-family:courier new;">Quando os braços buscam-se e o choque é invocado como toque, razões não mais são evocadas: resta apenas a vontade do prejuízo. Nervos e carências. Uma funesta cena de drama.</span><br /><br /><span style="font-family:courier new;">Quis crer serem verazes suas razões, ser dor toda aquela hipérbole, ter desesperança e acabar consigo dum único golpe. Restou vencida. Exausta e Bêbada. </span><br /><span style="font-family:courier new;">Caiu Juliana, numa sala quebrada, num canto escuro de uma casa alugada, sua vida arrasada, suas memórias espalhadas, destroçadas. Acordaria pedante, constante, confiante, sairia à porta e não voltaria a ver-se nunca mais.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-58971521984132640632010-02-23T09:12:00.000-08:002010-11-26T05:22:44.863-08:00Seu nome.<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjMaS92Op45w8L-qJqhCJYTgFxYdtT-XjQMKSAG2qUdu6pQPwZc-RWbvCxW3cIL95iHrWNsb1RJ8f4ZL0EV_YwGdDnxdiKGwHRLbUwCT6aZvlrLoACxkNLuL6MjnziJJrXWo7GvwCJvpY/s1600/sair+da+cama.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 300px; DISPLAY: block; HEIGHT: 300px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532461520893179490" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjMaS92Op45w8L-qJqhCJYTgFxYdtT-XjQMKSAG2qUdu6pQPwZc-RWbvCxW3cIL95iHrWNsb1RJ8f4ZL0EV_YwGdDnxdiKGwHRLbUwCT6aZvlrLoACxkNLuL6MjnziJJrXWo7GvwCJvpY/s320/sair+da+cama.jpg" /></a> <span style="font-family:courier new;">Tudo começava a fazer sentido. Vê-lo em trajes íntimos revelando pelas entrâncias que o escuro da pele coberta pelo tecido deixava notar, o seu sexo, era a certeza que faltava ao seu ego agora saciado, sorridente. Não restava dúvida – era seu.<br />A cena que ali se concretizava por tanto tempo apenas vicejava os sonhos calorosos das noites em que ocupava sozinho seu claustro de desesperança. Sua mente vacilava entre o cansaço e a euforia da conquista presente sob seus olhos, entranhada em sua carne, irreversivelmente concretizada.<br />Outrora o via com sua certeza gestual de pretenso dono do mundo e suspirava por isso. Cobiçava-o. Pelo olhar, gingado, malícia; pela precisão com que executava sob o entalhe de seu corpo rijo os movimentos destros do seu dia. Era um conquistador nato - de almas e desejos. Um macho que atiçava e encorajava a lasciva dos desavisados andarilhos.<br /><br />Mais uma vez lançou seu olhar para aquele corpo que dantes lhe afrontava os sentidos e agora lhe evocava a paz dos desejos realizados. Percebeu-se sentado só numa poltrona e sentiu frio; não tardaria amanhecer – precisava ser rápido, poucas horas lhe restariam.<br />Levantou-se e tocou contundente a tez morena e forte daquele que num enlace lhe acolheu com um largo sorriso alheio tentando aprisionar-lhe em seus braços. Sem saber o fez. Desde então ficara eternamente atrelado àquele abraço, ao quarto, ao instante, àquele que levara presa sua alma sem ao menos dizer-lhe o nome.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-25674818019732633912009-09-10T15:29:00.001-07:002010-11-26T05:23:32.473-08:00Samsara<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsZxPb-nx8H-CeP9TLBWKdqV2a2bWKunS3cXYqyWgkPXQlSbcMclndMbFcCm0L7Z8ddmBchkcKFx0E6UYX6TX9pTJvaQl8b9ssnlBU1RqY3egbS0VJqTudpEKpUMp3pJQjswDjaYsQo1w/s1600/T9VBE3CA972HRUCA0N4JFVCA9L3D42CAO3HHX1CAK30WKTCAG9IX5PCALMFSMMCAYBSXPECAPGUWORCA15N0P7CA26L5B4CAHKSSKWCAYGNNQVCAJ4Z0YNCAUJ7CEXCAFQ5UWPCALJSR3ACAC9J8RX.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 310px; DISPLAY: block; HEIGHT: 162px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532691324563010194" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsZxPb-nx8H-CeP9TLBWKdqV2a2bWKunS3cXYqyWgkPXQlSbcMclndMbFcCm0L7Z8ddmBchkcKFx0E6UYX6TX9pTJvaQl8b9ssnlBU1RqY3egbS0VJqTudpEKpUMp3pJQjswDjaYsQo1w/s320/T9VBE3CA972HRUCA0N4JFVCA9L3D42CAO3HHX1CAK30WKTCAG9IX5PCALMFSMMCAYBSXPECAPGUWORCA15N0P7CA26L5B4CAHKSSKWCAYGNNQVCAJ4Z0YNCAUJ7CEXCAFQ5UWPCALJSR3ACAC9J8RX.jpg" /></a><span style="font-family:courier new;">- Adeus, disse reticente, deixando soçobrar na entonação da sua voz o arrependimento por tê-la proferido. Como se somente após ouvi-la de si, tivesse conseguido entender seu real significado. </span><br /><span style="font-family:courier new;">Disse e volveu lentamente a cabeça como se tentasse na escassez do instante aprisionar as cores, linhas, desenhos e sensações daquele lugar e gente. Parar o curso inexorável do tempo de forma a tê-lo gravado não só nas suas memórias, mas no seu corpo, na sua alma, na sua história. Queria fazer parte de tudo aquilo, mas seu olhar já era futuro, longe, diferente, destino, seu.</span><br /><span style="font-family:courier new;">Em terra estrangeira sempre se sentira natal, e o era, até dono buscar a próxima inquietação.</span><br /><span style="font-family:courier new;">De todas as casas, todas poderiam tê-lo visto nascer. De tantas pessoas: todas suas irmãs. Das famílias sentia-se possível filho... Era assim: parte de tudo; tudo quanto seus olhos via se encantava e tentava aprisionar, guardar, parar, ter, sentir... </span><br /><span style="font-family:courier new;">Braços abertos, vento ao rosto, expectativa de chegar e hora de partir. Ir e voltar deixando ficar ali no azul daquelas águas, na força da arrebentação, nos sorrisos desconhecidos, nas bocas úmidas encostadas, noites e dias, o tempo eterno das coisas acontecidas.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-8966445640721528292009-07-17T10:44:00.001-07:002010-11-26T05:24:29.001-08:00Feitio.<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj86cVoDpdSnu47xxJuIR6LJ7xkkEP5wQu8GUtp0YEKTI_mrrBIliMOytAXfeW5bN4t5w41sVQhDMUKG8BDBy8QnUTJaYrjuHyPYmKJvyAE2rk6Tw4pM31ir7MZYa9aXrJCnErpm6_mniA/s1600/8849214-md.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 215px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532858122068826946" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj86cVoDpdSnu47xxJuIR6LJ7xkkEP5wQu8GUtp0YEKTI_mrrBIliMOytAXfeW5bN4t5w41sVQhDMUKG8BDBy8QnUTJaYrjuHyPYmKJvyAE2rk6Tw4pM31ir7MZYa9aXrJCnErpm6_mniA/s320/8849214-md.jpg" /></a><span style="font-family:courier new;">Um vento de saia rodada e um olhar farol de criança... Ela chega.<br />Sorriso contidamente faceiro, exalando o aroma da camélia que acabou de colher para enfeitar seus cachos <em>ruzios</em>, gira e desce sob olhos fascinados.<br />Vermelhas suas pulseiras, morena sua tez reluzente e suave seu hálito morno, com ela e dela começa a música. Chocalham os guizos e o samba, veia acima, arriba a roda e embala as moças.<br />Sob gestos pontuais e intensos, discretos, o salão dança a luz que move circular todo o cômodo. As árvores saúdam o vento que as balança e a brisa marinha recende as memórias do cais... Tudo é mar, é infinito, é calor e calafrio, é suor e desatino, é ritmo, é guerra e entrega. É Paz.<br />Na pisada da gira, roda, no lampejo do instante seguinte, marcha certa, fronte rente, cochicha, evoca, toma firme sua saia, cabeça guia, passa vulto e vai embora.<br />Deixa viúvos os moços, orgulhosas as rosas e abandonados de sentido o povo que, no repente, mira longe o rastro de sua energia. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-76361713660031358732009-06-12T11:05:00.000-07:002010-11-26T05:25:01.630-08:0012 de junho de 2009.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7tDV0LO1fq80ysIrhfBVS3jg-Xs4_S6_9APqGnlnXBmS2sx5B0rsUqaSoX3P2vzhSAVEsIXnuL7UcKMJATbzQNCwubNUZ0qT1R6mofJzZrbe0RESLaj5izcyDXdIsIejZ3CX3uUwkihg/s1600/5d0d7858090a9c99c909d210e1227f4c1f6ec987.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5532862877683785394" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7tDV0LO1fq80ysIrhfBVS3jg-Xs4_S6_9APqGnlnXBmS2sx5B0rsUqaSoX3P2vzhSAVEsIXnuL7UcKMJATbzQNCwubNUZ0qT1R6mofJzZrbe0RESLaj5izcyDXdIsIejZ3CX3uUwkihg/s320/5d0d7858090a9c99c909d210e1227f4c1f6ec987.jpg" /></a><br /><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Nesta manhã, somente para você.<br />Você que me acompanha a tanto tempo e pouco diz sobre si.<br />Seus gestos sempre discretos. O cuidado com que cuidas de mim, das minhas coisas, dos meus.<br />Sinto-te presente desde as primeiras imagens que diviso ao acordar, até se pôr, acoplada, sua eclíptica noite aconchegante.<br />Este jeito de chegar e tocar, de olhar, de sentir e me permitir, de ir e deixar-se permanecer...<br />Hoje sou teu, menos eu. Mais você. Você quando, tanto, sem cessar. Você passado, presente, vindo. Passo a passo, todos os dias, mais perto.<br />Pelas estrelas desta alvorada, por tudo que a tanto cultivo em mim para ti.<br />Eu e você no sempre que já dura um nunca. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-30905279715117715832009-06-01T06:44:00.000-07:002009-06-03T09:41:17.994-07:00Estranha intimidade<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Tragados. Gritos, acusações, dores, silêncio, cigarros. Nada mais que gestos: única linguagem vociferada por aquele hiato de nucas retesadas, olhares propositadamente esquivados, respirações sincopadas e uma vontade incontrolável de permanecer. Restava a vontade de ficar quando o tempo era partir.<br />Por entre taças abandonadas, melodias sem mais sentidos, acagüetes inventados como fuga, desintegravam-se os sorrisos, o carinho, a cumplicidade, a intimidade; tudo diluído na estranheza daqueles objetos e pessoas que os cercavam. Dantes: ventura, agora: desdita.<br />Atos e palavras nunca antes ditos ou sequer imaginados na boca do outro rasgavam ventres e arritmavam corações. Longos silêncios marcavam tréguas diminutas. Os anos resvalavam-se na voracidade em se que consumiam segundos, minutos, horas naquele longo duelo de armas e ataques invisíveis. Irreversível. Destrutível. Cruel. Posto. Holocausto.<br />A vontade: não ir.<br />Aquelas presenças beligerantes procrastinavam o término do massacre. Buscada nos olhos a esperança: fúria. Companhia: abandono. Compreensão: ira. Anistia: exílio. Matéria atraída: repelida mente.<br />Entrincheirados, não mais conseguiam superar lexicamente o embate; durado o bastante, corrompera ele qualquer alternativa de saída lógica para aquela situação; restava o pesado calar.<br />Escuro. Bar. Fechado. Chuva. Passos. Carro. Abrir. Chave. Luzes. Toque. Engano. Estranhos. Olhos. Estranhos. Olhos. Suor. Frio. Receio. Toque. Toque. Toque. Beijo. Roupas. Corpos. Corpos. Corpos. Dor. Ofegantes. Ofegantes. Olhos. Olhos. Olhos. Eu te amo. Eu te amo.<br /></span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-27582701860905474782009-03-27T07:31:00.000-07:002009-03-27T07:33:07.005-07:00A cena muda.<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Tardava sentido no peito aquele grito, a revolta, o prejuízo e o pranto; tudo quanto emudeceu seco e inaudito nele.<br />Vê-lo à rua em suas passagens habituais – cadente, firme, largo, tez cuidada, toalete impecável, feição leve e pressurosa certeza gestual - poderia enganar qualquer diligente observador.<br />Seus ecos, só ele os trazia, silentes e acomodados junto a uma infinidade de muitos outros que não mais aturdiam, porquanto, como em barganha, um a um, lhes retiraram as sinapses sensoriais da emoção.<br />O mundo que mais se lhe afigurava cômodo e agradável era aquele donde assistir-se travando relações sabidamente fracassadas, quando muito, arrancava-lhe dos lábios sorrisos premonitórios de perjúrio. Nada conseguia merecer o adjetivo de novidade.<br />Submerso neste mundo ele propunha-se a caminhar entre as ruínas dos que ficaram ou insistiram em abandonar a sua promessa de ventura.<br />Igual, sorridente, agradável, gentil, paciente, educado, inteligente, generoso e respeitador, aquele que ali jazia andando era o único a poder supor de sua morte.<br />Se sua palavra trazia consolo, era mais pelo alívio que o abandono do ouvinte ao saber-se consolado lhe renderia que por qualquer atributo altruísta e piegas porventura conseguido. No olhar, o brilho e atenção pela impaciência na demora em presença de outros. O sorriso, para que, enganando a expectativa alheia, pudesse, tomado por cordeiro, ser livrado de amenidades, taxativa e preconceituosamente por ele batizadas como banais. Não tolerava mais que a sua presença mortiça sobre a terra, muito embora se esforçasse em parecer social pela paz que a aparente normalidade o trazia.<br />A sua, era mais uma dentre tantas faces descartadas no ir e vir das ruas. Inacessadas, desperdiçadas, errantes, tangentes... Faces como a do Senhor sentado ao banco da praça, da Velhaca distinta e puritana que alimenta os pobres, do porteiro, do vigilante, do amante. Mais uma história da qual nunca se ouvirá.<br />Sentiu frio o vento que súbito cortou sua tez e lhe fez encolher sobre o casaco, cruzou a avenida fazendo gestos com a mão para os carros que apressados ameaçavam seu caminho, jogou inflexível uma moeda a um pedinte e dobrou a esquina indistinguível; inapreensível sob gestos padronais, até para aquele garoto que de passagem no ônibus tentou captar, como que em jogo, seus pensamentos através do vidro. Foi-se em segundos pela esquina, até onde o olhar juvenil não o pode mais acompanhar; seguiu, como seguirá, carregando consigo, brado mudo, a possibilidade de ter dado a qualquer outrem a chance de mudar sua vida. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-2702744375289734672009-01-20T05:52:00.000-08:002010-10-26T09:54:57.378-07:00Fuga(z).<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Noite pagã de frêmitos agudos e quimeras fugidias, embala-me infante em seu manto de felicidade... nunca me acordes; caso ocorra, pega-me no colo, da-me teu veneno e carrega-me para o sem fim outra vez...</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-56777779981439367252009-01-20T05:51:00.000-08:002009-01-20T05:52:28.944-08:00[ ]<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Ouço as bombas estourando e as paredes parecem tremer frente aos impactos intermitentes dos metais.<br />Trovões, ares e cheiros de longe trazidos pelo turbilhão que engole os sons ordinários das passagens.<br />Como que extraído ou abduzido à lembranças e estados avessos, ou épocas e sentimentos que não me pertencem, sou levado a observar.<br />Em meio ao corre-corre as luzes se ascendem e pela janela ainda consigo divisar o último instante do gigante...<br />Passa o trem e logo atrás dele, e com ele, algo de mim que não vivi.<br />As crianças correm como que embaladas no percalço duma velha novidade: o aturdir de todas as horas.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-6129083876762115162009-01-18T05:47:00.000-08:002009-04-08T09:39:48.292-07:00Cada um pode com a força que tem.<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Hoje uma cobra me picou... Suas entranhas penetrantes pareciam que nunca sairiam da minha carne macia e vulnerável. A mim ficou claro que mesmo se corresse ou gritasse não conseguiria escapar daquele bote irresilível - preso.<br />Dentre três, aquela fugidia ofídia era a assaz caçadora. Sua fuga deu em mim que ironicamente de chofre não pude me esquivar. Resultado: dente, veneno, sangue [o meu], carma. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Rasteira agora a peçonhenta percorria meu corpo com mais que um veneno - o sentimento de impossibilidade frente à fatalidade, impassível, fadado, marcado, sem antídoto, morto morrendo.<br />Suado, visão turva, sentia uma dor que não era dor, mas a frustração de não ter me desembaraçado daquela sina. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Pernas travadas, corpo fetalmente encolhido, retesado, frio, peito em chamas, síncope... Por fim abri os olhos e, mãos justapostas, orei palavras supersticiosas para afastar o que, para minha sorte, começava a se desvelar, por aparentes indícios, como uma visão – o sonho mau sonhado duma noite insólita e movimentada.<br />Já acordado restou no peito o aperto do fatídico encontro, embora onírico, meu e da cobra, ou das cobras, além da sensação de coisa suspensa no ar e a tentativa de antever qualquer mau presságio que aquela premonição pudesse teimosa evocar. O máximo que consegui foi repetir não ter passado dum sonho, mas como fui eu mesmo quem disse, pouco importou a tentativa de conformação; já foi o tempo em que ouvir amenidades esvaecia de súbito qualquer temor.<br />Restaria destilar o veneno. Era isso mesmo, teria que aceitar durante todo o dia o encontro irrefutável – eu e a coral. Entretanto agora eu decidira - seria eu ofídio a se temer.<br /><br />Noite de janeiro, presságios de abril.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-21196072720708011202009-01-07T19:54:00.000-08:002009-01-12T18:41:04.764-08:00Benedito.<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Do que se diz perda soluciona-se o futuro; como cego tateante entre possibilidades vãs e caminhos inexistentes... Recuando e avançado onde brecha abrir destino sua guia.<br />Do que se diz fim encontra-se o fim do fim, e tudo é fênix.<br />Da teia emaranhada tesoura cega corta o sufoco iminente.<br />Impossível. Certeza.<br />Não. Espera.<br />Nunca. Ato.<br />Dizem de mim e eu digo-me assim.<br />Quebranto quebrado, Água corrida, Desdito o dito.<br />Bendita a dita.<br />Vida.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-29753917633619124382009-01-03T10:01:00.000-08:002009-01-04T19:20:36.876-08:00Dantes.Ouço a música que cantei seus olhos.<br />Recrio o embalo dos nossos corpos, do seu cheiro e revivo aquela dança...<br />Dobras, reentrâncias, pêlos, carícia e ritmos acoplados por uma balada binária e variável. Corpo no corpo. Nós.<br />Paro ao buscar o seu e deter-me vazio, distante. Sem contratempo perco-me em extravio.<br />A música insiste, agora mais alto...<br />Então fecho os olhos e, corpo sob o ar, ateu, oro o movimento cíclico que irá te evocar a esperança de uma última dança.Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-76583605202125185872008-11-27T07:29:00.000-08:002008-12-02T18:58:53.803-08:00Amiseração.<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Um livro fechado: era a única imagem possível dele. Aquele do qual se esperou em vão... Cem número de páginas hermeticamente cerradas à capa, sem autor, título ou destinação.<br />Histórias não vividas, tramas desperdiçadas, personagens carentes do afeto, ou mesmo o ódio convulsivo, indignado e manso, dos inexistentes legentes... Um conto nunca contado.<br />Possibilidades findas sob o negro opaco daquela encadernação aprisionante... Monotonia irascível e estéril.<br />Tudo ali diante dos olhos sob a escrivaninha, empoeirado, gritando o silencio das laudas não viradas, sobrepostas, suscetíveis, inanimadas, transbordantes de possibilidades, à mão. Irremediavelmente sufocado, sem por vir, a espreita ou espera daquele que, embora possuísse o domínio, apenas assistia, como num espetáculo, cruel, frio, sangrando, o ocaso de sua genialidade.<br /></span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-11009661076369323122008-11-05T13:59:00.000-08:002009-01-04T19:22:44.242-08:00De Cima.<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Não eram só os sons das alpercatas de couro a atritar as pedras gastas da ladeira, nem mesmo o ritmo quase caribenho que, vez por outra, emanava das tabernas daquele centro histórico, quiçá o vento almíscar de maresia que subia por entre os casaris coloridos... Sob um forte aroma citroadocicado que ascendia o terreno íngreme de encontro aos descendentes, sentia-se frio o suor quente que escorria manso por têmporas e nucas, recebia-se os brejeiros sorrisos cabrochos, vislumbravam-se os quadris ritmados por gingados hereditários, os olhares convidativos das esquinas, a precisão do talhe dos corpos mulatos... Descendo a ladeira e subindo a temperatura, como que mais e mais úmido e tépido. Mantra, Incenso, dança, sensualidade. O verão chegara àquela terra e os corpos buscavam à beber-se numa sede infernal de vida. A única certeza, entretanto, era a descida, nada mais. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-88757767606409110002008-09-23T12:59:00.000-07:002011-06-02T11:01:11.540-07:00Back to Black<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Quedada, lânguida, sôfrega e tresloucada cantarolando o último jingle do que seria a Amy Winehouse da época dos canaviais, a Sinhazinha borda tediosamente mais uma musselina no alpendre do paço da casa grande.<br />De súbito, passado vulto pela escadaria, se utilizando da destreza disfarçada que lhe é peculiar, adentra por entre as colunas do avarandado o escravo: aquele do qual ela exige fortuita e intensamente, desde seus doze anos, a prontidão no exercício de serviços somente realizados no silêncio do breu da noite, já que o desempenho afobado do marido, por mais ofensivo e esforçado, só a fazia bocejar.<br />Ela espicha seus olhos felinos por entre as mechas louras do sedoso cabelo zelosamente escovado pela mucama, mulher do criado que caminha em sua direção: pisada certa, odor de mata, tronco riste, tez quente, membros prontos, lábios mornos e olhar castamente erótico trazendo-lhe um envelope carmim. Uma carta; informa-se em seguida.<br />Qual não é sua surpresa ao sabê-la do ultimo caixeiro viajante que por ali passara - O Libanês, que em idos pretéritos fizera sua felicidade nos canaviais da fazenda e se fora lhe deixando saudosa. Um turbilhão de emoções povoam sua libido abandonada... Ao retomar-se acompanhada, fecha brusco o envelope a fim de poder saborear-lhe o conteúdo oportunamente, e então, já que na presença do empregado, disfarça o rubor e retoma sua brejeirice hipócrita, teatralmente arquitetada por anos.<br />Já mansa, roçando suas rendas no calhamaço do escravo, ela se levanta avaliando cada centímetro da máquina prostrada à sua frente lhe ofertando mais que um serviço: uma devoção, guarda a encomenda com uma das mãos e com a outra, contundente, leva às nádegas rígidas do Preto uma vigorosa palmada, recebida com o sorriso e obediência de quem lhe possui comissiva em suspiros e arroubos de luxúria e soberba. Agora o olhar felino é dele que num meneio de cabeça lança-lhe a certeza da posse noturna na sua senzala. Se retira silente, acabrunhado e veementemente excitado, sentindo rijo o negrume daquela MISCIGENAÇAO</span>. </div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-80409464288379594292008-05-05T17:40:00.000-07:002008-05-07T19:40:24.757-07:00Reverso<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Mergulhei no mundo do indizível, do tentado... no mundo das idéias fugidias, dos papéis em branco e da caneta em punho. Busco tornar dito o impermeável estar abstrato. Esforço-me em tornar visão a <em>Quanta</em> da idéia e a semi-ótica da vida; o arrepio que me toma frêmito em completude ao inteligir do instante... todos os mundos... todos os signos que povoam minha mente mesmo após o sono... como se a missão não me permitisse escolha, senão penetrar nas horas dos segundos a precisar o que é ter estado do lado de lá. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-22068068086004149032008-02-06T05:56:00.000-08:002008-02-06T07:13:43.711-08:00Epíteto<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Sabe aquela sensação indizível que se manifesta organicamente a espreitar sua destreza e precisão ordinária? O motivo do olhar desinteressado, do corpo fatigado e da pele suada envolta ao lençol da noite anterior. O ´sem razão` do seu dia de feriado. As causas do embotamento de seus sentidos. O que não se precisa, mas merece afinco ao faze-lo. O sentimento, o cansaço, o olhar turvo, o calor, o tédio... vale a tentativa de domina-lo conceituando-o. Nomeando a alcunha da repercussão de um dia ensolarado de tempestade. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-7575088999906351052008-02-06T05:42:00.000-08:002008-05-05T17:52:15.142-07:00Sra. Springs<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Seu espírito jovial e aparência frágil deviam ter despertado a empatia de todos. Apesar de ter completado 91 anos a exatas duas semanas atrás, aquela Senhora que acabara de chegar e instalara-se ao meu lado na festa de comemoração do aniversário da Telma suscito-me uma atenção sobremaneira destoante daquela dispensada aos recém chegados num grupo tacitamente convencionado como sendo somente atrativo para jovens; mais precisamente àqueles que não ultrapassaram a margem temporal dos 30 anos.<br />Quando da sua chegada estava instalado no patamar superior da casa da Telma, então anfitriã e aniversariante, local onde tinha contato com todos os recém chegados, além dos que já se encontravam por lá.<br />Era uma tarde ensolarada de setembro e deleitávamos a brisa marinha que por hora perpassava nossas faces. Tudo contagiava, desde a alegria efusiva dos amigos à descontração dos desconhecidos; tudo tomava-me tépido, como que embalado pela maresia das certezas confirmadas pelo ambiente seguro e comodamente feliz.<br />Qual não foi minha surpresa quando dei a embaraçar-me com uma sutileza oculta da até então aprazível Senhora. Certo de que toda inquietação fantasia-se em mesura, tentei recobrar aquele estado ameno que experimentara antes de deter-me mais uma vez, desta vez mais incisiva, naquela figura senil. Virei e continuei com minha alegria pontual.<br />A comida já estava a ser servida e todos se encaminhavam aos balcões do bufe quando mais uma vez peguei-me a esquadrinhar a pretérita figura. Analisava seus hábitos e aparência - gestos vigorosos, olhos atentos e perspicazes, fome invejável, vestimentas coloridas e sorriso fácil. Aparentemente modesta e afável. Mais uma vez retomei a velha postura preparada para a ocasião: sorriso e embriaguez.<br />Toda minha predisposição começava a desvanecer, a festa parecia suspensa e distante do local para o qual me encaminhava parado atento àquela Senhora. Durante o fim da celebração eu já estava exausto de investigar os motivos reais do meu embaraço, as justificativas para minha súbita tensão.<br />Por mais longas três horas eu estive ali e não estive em lugar algum. Perdi-me no ´sem fim´ da encantadora Senhora, nas entrelinhas dos seus motivos e relações fantasiados pela minha mente inquieta. Tinha a impressão de pedir-lhe algo sem que houvesse resposta.<br />A festa acabou e deparei-me aflito com sua iminente saída. Apressei-me em encontrar-lhe para que tocando-a pudesse compreender aquele desconforto. Meu toque repercutiu em sua tez flácida como uma gota num lago ameno. Com um rápido meneio de cabeça ela virou, parecia não ter se incomodado com o toque, mas agia como se soubesse que alguém a aguardara logo atrás. Não preciso destacar que este alguém era eu. Tão logo fui brindado com seu olhar, dispensei à Senhora toda a simpatia e cumplicidade que couberam num sorriso desnecessariamente forçado. Queria acabar com aquela situação. Eu, em plena festa de aniversário da Telam sentindo-me estranho por examinar uma idosa de noventa e tantos anos, alheio a seus motivos, encantado com algo indescritível.<br />Até hoje não tenho a resposta ao que aconteceu após aquele olhar, estive em sua presença íntima, mas não me saciei. Tive a impressão de ter-me visto naquele lago azul cristalino. Estive horas e dias mergulhado ali durante aqueles segundos interrompidos pelo mesmo meneio que me possibilitou vê-los. O meneio que a levou para nunca mais. Ela se virou e atravessou a porta.<br />Sua história, claro, após algumas horas chegou a meu conhecimento, mas não se destacou dentre as muitas que conheço. Talvez por isso tenha me incomodado. Travei contato direto com a imagem de uma pessoa banal, uma história medíocre. Observei a corrosão do tempo e a impiedade deste para com os sonhos de uma pessoa entregue. Ela contentar-se-ia com as migalhas de que se vale o piedoso para regozijar-se intimamente sobre os mais fracos. Temi aquele fim.<br />Apenas uma mãe abandonada por quatro dos seus cinco filhos; só não pelos cinco porque o caçula não conseguiu se firmar e precisava de sua pensão. Uma criança velha que sonhava em ser bailarina. Uma jovem anciã obrigada a trancar seus estudos para criar os filhos, já que o marido morrera muito jovem e lhe deixara sem nada. Uma adulta senil e fatigada pelo peso do esfregão que utilizava em seu trabalho. Uma velha decrépita que vorazmente alimentava-se alheia a uma festa meticulosamente preparada para celebrar a vida. Não a sua. Trivial e assustador.<br />Vi naquela tarde o crepúsculo de um astro, a ameaça da vida aos meus sonhos e minha crença de tudo poder. O destino claramente traçado por mãos impiedosas e sem razão. Estive a olhar sob os olhos cristalinos da Senhora Springs a tristeza duma vida que não deu certo. A minha vida que não daria certo. Estive num cemitério e não gostei do que vi; pelo menos não era como nas histórias que ouvi quando criança, onde envelhecíamos realizados e cansados dos louros duma vida gloriosa e cheia de lições.<br />Estava exausto. O contraponto entre a infrutífera alma da Senhora Springs, que aparentemente contentava-se com qualquer banalidade a ela oferecida, e a comemoração feliz de mais um aniversário da Telma sopesavam em mim uma perspectiva de viver morrendo. Era uma profecia muda e infeliz que proferia ali sentado a observar a mortandade feérica da anciã. Tudo regado a uma forçada ventura cuidadosamente arquitetada como um jogo do contente.<br />Dois anos depois a Senhora Springs morreu de Auzeimer e seu filho caçula continua vivendo da ajuda alheia, desta vez de seus irmãos que assoberbados antigamente não conseguiam estar próximos da mãe. Irmãos que culpados tentam, para tranqüilidade de suas auto-avaliações, já que ninguém estima-se em ser vil, ajudar o irmão caçula “infortunado”.<br />Com o cadáver da querida Springs uma parte de minhas ilusões se perdeu. Começo a ver o mundo gris e não me perco mais tão facilmente entre as faces alheias. É como se em minha nova jornada vagasse a procura de algo que no fundo sei nunca irei encontrar. Um carma irrefutável. Um movimento desprovido de qualquer esperança e motivo.<br />Recorrer a Deus? Deus com certeza sairia impune com a evasiva de sua magnificência sobre o destino torto dos carmicamente submetidos ao estigma de pecadores livres. Assim foi com a Senhora Springs, assim seria comigo.<br />- Olá rapaz.<br />Como um turbilhão fui subtraído duma outra dimensão e vi rodar a festa pela qual estivera envolvido todo o tempo. Tive a impressão de distanciamento e rápida chegada. Estive longe e fui trazido de volta por aquela Senhora que olhava-me de forma afável e delicada, como que se referisse a um neto.<br />- Sra. Springs?. Assustado, apressei-me em perguntar.<br />- Quem é Sra. Springs querido? meu nome é Virgínia. Vc esta bem? Respondeu-me a anciã.<br />No intervalo entre a minha pergunta e aquela resposta consegui distinguir o ocorrido. Estava na mesma posição em que havia sido brindado pelo olhar da Senhora – Virgínia então era seu nome - e numa fração de segundos idealizei uma história trágica. Agora podia perceber por onde havia vagado minha mente inquieta.<br />Durante as horas que se seguiram travei conhecimento com a encantadora Sra. Virgínia e tive certeza de que o destino que havia traçado para ela – então Sra. Springs - não guardava qualquer similitude com a realidade. Tinha em minha frente uma mulher feliz, não pelo alcance de suas metas e sonhos juvenis, mas pela satisfação de ter vivido maravilhada durante 91 anos.<br />Senti o peso de minha mente fértil e uma forte dor de cabeça.<br />A festa acabou e continuamos a nos envolver em histórias e lições. Eu, a Senhora Springs e Virgínia, todos os eu´s daquele homem solitário que acabara de se levantar da poltrona imunda dum quarto vazio na Av. Presidente Vargas, n° 07, centro de São Paulo. </span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3178549007869689143.post-38977160033496221052008-02-06T05:34:00.000-08:002008-02-06T05:41:27.640-08:00Extravio<div align="justify"><span style="font-family:courier new;">De que adianta dissimular indiferença se em minha chegada é por meus olhos que anseia?</span></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Para que o embaraço das mãos e das palavras se quando o que mais queres é meu toque?</span></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Por que distante se quando perto me queres mais perto?</span></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Por que fugir se em seu quarto, sob seus lençóis encontra-me rijo a te suscitar?</span></div><div align="justify"><span style="font-family:courier new;">Desencontro, advertência, incongruência, distancia. Interrogo-te em silêncio e sei que compreende a pergunta muda que cala fundo em seu olhar.</span></div>Jurandy Boa Mortehttp://www.blogger.com/profile/02693017673709981372noreply@blogger.com1