
Recomeçara o ritual. Fotos, postais, mapas, rabiscos, bilhetes, ingressos, guardanapos, panos e livros rodeavam-na naquela penumbra à luz do lusco-fusco claudicante das velas cenicamente colocadas para o momento. Exortava-se.
Porta abaixo escorria pranto, corpo e soluço numa entrega que buscava tateante, móveis para quebrar, objetos para jogar e uma música que mais lhe fizesse chorar. Perseguia um contratempo onde toda dor fosse menor e mais supérflua que a sua. Onde sua angústia seria merecedora de um estrago material de proporções tamanhas ao quanto estava operando.
Lascar, quebrar, derrubar, gritar, chorar, espernear... A cíclica destruição shiva deveria reinar em sua cabeça naquela noite.
Quando os braços buscam-se e o choque é invocado como toque, razões não mais são evocadas: resta apenas a vontade do prejuízo. Nervos e carências. Uma funesta cena de drama.
Quis crer serem verazes suas razões, ser dor toda aquela hipérbole, ter desesperança e acabar consigo dum único golpe. Restou vencida. Exausta e Bêbada.
Caiu Juliana, numa sala quebrada, num canto escuro de uma casa alugada, sua vida arrasada, suas memórias espalhadas, destroçadas. Acordaria pedante, constante, confiante, sairia à porta e não voltaria a ver-se nunca mais.
7 comentários:
MUITO BOM O TEXTO, BEM ESCRITO!
DARIA PRA CRIAR UM CONTO A PARTIR DELE!
PARABÉNS E SUCESSO COM O BLOG!
muito bem escrito o texto, bom blog, parabéns!
até o quebrar-se é necessário.
muito bom.
abraço!
This is me???
auahuahuauhauhauhaauahua.
Ai ai, julianas com jeito hipérbole de ser.
Adorei.
meu querido...o que dizer de sua escrita, o que dizer de tamanha capacidade em descrever tais delíros? sou sua fã, sempre fui. devo mais visitas ao seu blog, pois morro de saudades de você e dessa sua sensibilidade sagaz...um beijo, luz e paz. continue a escrever, para nosso regalo. e, aproveitando o tema do post, mas no sentido figurado baiano'quebra tudo'! juliana
gostei das imagens seguidas e certeiras do teu texto, cheio de musicalidades
Gostei de ver, ou melhor, de ler...
Um bom texto é aquele que prende o leitor até o final... você conseguiu isso.
Uniu a sutileza dos poetas com a retórica dos bons juristas...
Voltarei mais vezes e seja sempre bem vindo aos meus Blogs...
"meus olhos arregalados não piscam pra quallquer um nem fecham pra qualquer medo"... sucesso pra vc!
abraço!
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