Eu versejo por todos os tempos e templos, por todas as épocas, tal qual um vampiro reinventando sua imortalidade... quero beber-te vermelho e tornar-te imortal... Boa Morte!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Estranha intimidade

Tragados. Gritos, acusações, dores, silêncio, cigarros. Nada mais que gestos: única linguagem vociferada por aquele hiato de nucas retesadas, olhares propositadamente esquivados, respirações sincopadas e uma vontade incontrolável de permanecer. Restava a vontade de ficar quando o tempo era partir.
Por entre taças abandonadas, melodias sem mais sentidos, acagüetes inventados como fuga, desintegravam-se os sorrisos, o carinho, a cumplicidade, a intimidade; tudo diluído na estranheza daqueles objetos e pessoas que os cercavam. Dantes: ventura, agora: desdita.
Atos e palavras nunca antes ditos ou sequer imaginados na boca do outro rasgavam ventres e arritmavam corações. Longos silêncios marcavam tréguas diminutas. Os anos resvalavam-se na voracidade em se que consumiam segundos, minutos, horas naquele longo duelo de armas e ataques invisíveis. Irreversível. Destrutível. Cruel. Posto. Holocausto.
A vontade: não ir.
Aquelas presenças beligerantes procrastinavam o término do massacre. Buscada nos olhos a esperança: fúria. Companhia: abandono. Compreensão: ira. Anistia: exílio. Matéria atraída: repelida mente.
Entrincheirados, não mais conseguiam superar lexicamente o embate; durado o bastante, corrompera ele qualquer alternativa de saída lógica para aquela situação; restava o pesado calar.
Escuro. Bar. Fechado. Chuva. Passos. Carro. Abrir. Chave. Luzes. Toque. Engano. Estranhos. Olhos. Estranhos. Olhos. Suor. Frio. Receio. Toque. Toque. Toque. Beijo. Roupas. Corpos. Corpos. Corpos. Dor. Ofegantes. Ofegantes. Olhos. Olhos. Olhos. Eu te amo. Eu te amo.

8 comentários:

Unknown disse...

Fico aqui paralisada com tamanha sensibilidade amigo. De uma forma tão inusitada vc consegue me emocionar e me fazer sentir tudo... tudo tão real! Um beijo enorme de sua amiga fã!!!

Luciano Fraga disse...

Caro amigo, gostei de tua escrita e do teu blog, parabéns, sucesso, abraço.

Unknown disse...

Amigo a cada dia que passa o seu brincar com as palavras torna-se cada vez mais ímpar.Continue a rasgar todo o seu Verbo!

Amanda Pope disse...

Realmente, tudo o que eu pensava da sua genialidade, acaba de ser superado!

Anônimo disse...

circuito fechado... aprendi isso na 6ª série ^^ é tão legal!

Um beijo Mariano pra você.
Vou te seguir ;)

catherine disse...

Você demonstra ter bastante sensibilidade. Gostei da alusão à guerra (trincheira, holocausto..mesmo não sendo do mesmo período, é de guerra), mas achei um pouco rebuscado, algumas palavras tive que buscar no dicionário. enfim, um abraço.

siga escrevendo.

www.catherinedejupiter.blogspot.com

Anônimo disse...

eu gostei tanto q sinto enjôo...é algo ruim escrito de forma boa..é um vômito cheiroso...é algo da ordem do gozo...e me identifiquei, Lispector, Nietzsche, kafka, fernando pessoa, Dostoievisk...tantos outros...mto humano vc...

Jéssica Menezes disse...

eu estou completamente apaixonada pelos seus textos... loucamente alucinada pela sua arte de escrever... morro se um dia ver um desses textos ditos pela sua próprio boca... pq lendo já é fascinante... imagine o próprio autor recitando... eu adoraria decorá-lo ... deixa?